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A minha caneta

Uma mulher e uma caneta (ou um teclado).

Uma mulher e uma caneta (ou um teclado).

A minha caneta

19
Out17

Ver até à exaustão para não esquecer

a minha caneta

Tenho visto e revisto os desabafos, os gritos de dor, de revolta de quem tudo perdeu. Depois de Pedrogão achei que não voltaria a presenciar tamanho horror. Mas enganei-me. e como eu milhares de pessoas neste país. Mas não é possível que tenhamos tão curta memória. Não é possível que possamos arrumar a culpa e a impotência numas garrafas de água, ou numas embalagens de compressas enviadas para os bombeiros. Não podemos descansar. Não podemos permitir que tudo fique igual. É nosso dever cívico fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que serão tomadas todas as decisões que impedirão nova tragédia. Não nos podemos deixar ficar com uma desculpa de mau pagador. O Estado não nos pode dizer que isto vai voltar a acontecer e nós encolhermos os ombros como se de um desígnio se tratasse. Não podemos. Não devemos. Vejo e revejo as palavras de quem tudo perdeu: o Marcelo de 19 anos que perdeu a irmã  de 3 anos e a avó, a Nádia que perdeu o filho de 5 anos... vidas desfeitas, pessoas que parecem autómatos. O meu filho mais velho perguntou-me hoje porque via essas imagens se elas me comoviam e faziam chorar. Expliquei-lhe que vejo para não esquecer. Para que me fiquem gravadas na memória e me obriguem a pedir contas, a não esquecer, a não calar.

 

16
Out17

Um país em chamas

a minha caneta

Espremidinho entre o Orçamento de Estado e a Acusação de José Socrates, saiu o relatório da comissão independente sobre Pedrogão. Ainda não o li todo, mas temo o pior. Pelo que vou lendo e pelas reações que vou vendo. Começo a achar que vai tudo assobiar para o lado e fingir que nada poderia evitar a tragédia. 

Lembro que no caso da ponte de Entre-os -Rios, a "infantil" responsabilidade política levou ao pedido de demissão de um primeiro-ministro. A culpa não pode morrer solteira. Até pelo respeito que estas pessoas nos merecem. As que morreram em Pedrogão e as 27 que morreram este fim-de-semana.

Todos sabemos que ninguém que estava no comando ou no terreno agiu de modo a que, deliberadamente, alguém morresse. A questão não é essa. Mas a verdade é que as más decisões conduziram a más ações e aos resultados que estão à vista: 91 mortos.

As responsabilidades não podem ser constantemente chutadas para as condições atmosféricas ou para o SIRESP. Quem tudo perdeu, quem chora os seus mortos, precisa de sentir que está acompanhado na sua dor, que não se está simplesmente a seguir cegamente em frente. De nada vale a solidariedade e a comoção nacional, os dias de luto e as coroas de flores nos funerais. Também sei que as demissões não trarão de volta quem morreu. Mas darão a quem tudo perdeu a sensação de que quem representa o poder assume as suas responsabilidades.

Não sou especialista em combate aos incêndios nem sei como deve ser feita a reflorestação do nosso país, mas parece-me evidente que o que tem sido feito até agora não chega. E também me parece evidente que há no nosso país quem perceba muito deste assunto.

12
Out17

Tanto para dizer e tão pouco tempo

a minha caneta

Saiu finalmente a acusação a Sócrates, a luta de galos no PSD vai dar muito pano para mangas nos próximos meses e o tempo parece, finalmente, dar-me uma trégua com o outono a espreitar. Mas, apesar de espetaculares, estes assuntos não conseguem grandes desenvolvimentos aqui na caneta. É que esta pessoa está submersa em pequenos dramas domésticos (a sopa, quem faz a sopa. O quê, a empregada voltou a não fazer sopa? e também não apanhou a roupa?) e grandes dramas familiares.

Mas fica a nota. Eu estou atenta ao que se passa no mundo. Só não consigo reagir.

11
Out17

Problema de expressão

a minha caneta

Este é o título de uma das minhas canções preferidas. Encanto-me de cada vez que a oiço. Perco-me na voz da Manuela Azevedo e na força do poema. De cada vez é como a primeira, acho-a linda, completa os espaços vazios.

Nas últimas semanas sinto este problema, o de não me conseguir exprimir cabalmente. Não porque não consiga dizer a alguém que o amo (como na canção), mas porque me faltam as palavras que me ajudem a digerir e a organizar tudo o que sinto. São ondas, pequenas réplicas que me assolam constantemente. Nas mais pequenas coisas, em mim, nos outros... 

A surpresa é tanta que às vezes tento parar para sentir, para sair desta dormência que me mantem isolada da realidade. Como num sonho. Há momentos em que tudo parece bastante irreal, e que me basta concentrar-me no dia-a-dia, nas tarefas, no básico que me mantem funcional, para que tudo não passe de uma mancha lá longe, num cantinho encondido da minha cabeça. 

Mas também há momentos em que sinto o chão a fugir, não sei o que dizer nem o que fazer. Tento apenas não antecipar. Não reviver, não achar que a história se repete sempre da mesma forma.

Não há soluções fáceis, nem respostas mágicas, mas era bom que assim fosse, que conseguisse encontrar uma justificação (nem que fosse divina) que me apaziguasse. 

Enquanto isso tento nas palavras.

10
Out17

Dramas de mãe

a minha caneta

Querer que eles comam um pequeno almoço diversificado pode parecer fácil, em teoria mas, na prática, há dias em que é tão irreal como escalar o Everest. E dou por mim entre o leite e a torrada, o batido e a sandes, regressando novamente à torrada, enquanto esfrego olhos na tentativa de me manter acordada. Sim, isto quando não falta o pão, ou a manteiga... ou mesmo o leite. E quando consigo ter tudo, ou quase tudo, a minha filha adora olhar para a mesa e dizer: "só isto?". Dá-me umas ganas que enfio logo a cassete do "sabes que há muitos meninos que não têm pão nem leite? e que vão para a escola com muita fome?" Lengalenga que ainda não surtiu efeito que se veja, diga-se de passagem.

A verdade é que faço um esforço demoníaco para cumprir os mínimos olímpicos da diversidade alimentar. Mas, confesso, adorava carregar num botão e sair tudo feito. Tudinho. Tipo filme. Arrumado e com bom aspeto, cozinhado na perfeição. 

Até lá vou tentar não me esquecer do pão.

09
Out17

Dia 9

a minha caneta

Não gosto particularmente deste dia. Foi no dia 9 de outubro que o meu pai morreu há, precisamente, 9 anos.

Hoje começa uma etapa também ela muito dolorosa na nossa família. Esta, tenho a certeza, terá um final muito diferente.

Mas o caminho vai ser difícil. 

 

09
Out17

Manifesto

a minha caneta

Ponham na mão direita de uma mãe de dois uma caneta e teremos muito pano para mangas.

Este é o meu manifesto. Escrever, na medida do possível, sobre a espuma dos dias: as birras, os testes, a casa, a empregada, o marido, o cão e o periquito.

Vale tudo. é o poder da caneta.

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